Não, eu realmente não tenho medo da solidão. Ao contrário, eu a tenho preferido. Viajando pelas estradas do meu Estado, às vezes um dia inteiro sem trocar uma só palavra, apenas retas e curvas, subidas e descidas e o som tocando no rádio do carro tenho tido tempo para pensar, para refletir e conhecer as pessoas como elas realmente são.
Conhecer as pessoas em sua ausência é uma arte que tenho desenvolvido muito bem. Mensurar seus limites, suas ambições e suas satisfações.
As maiores decepções advêm invariavelmente daqueles mais próximos, não por que sejam pessoas ruins mas sim por que os olhamos com os olhos que temos. Olhamos para os queridos como se fossem os ideais de nossas vidas, aquelas pessoas que teriam todos os sorrisos, todas as atenções e todo o tempo para nós.
Esquecemos ou melhor, escondemos de nós mesmos que estas pessoas são independentes, são imperfeitas e que mais dia menos dia terão suas verdadeiras identidades reveladas. A bela e a fera habitam o mesmo corpo. Enxergar isso é fundamental em qualquer circunstância.
Enxergar também estas personagens dentro de nós é o melhor do auto controle. Sabermos que somos belos e feras e quando estes lados se manifestam é de uma utilidade imensa para conhecermos nossos limites. Sabermos até onde podemos chegar, onde não podemos parar.
Particularmente pretendo trabalhar mais meu lado fera. Tenho sido meio passivo no que diz respeito às coisas que me acontecem. tenho aceitado com passividade as coisas que me incomodam. Preciso aguçar, atiçar, alvoroçar mais meu lado fera. Preciso aprender a impor o espaço que me pertence, independente a quem venha doer.
Doi em mim, doerá ao meu redor.
Eu me basto, eu me completo e por vezes, eu me transbordo!
