As artes são todas lindas. Escultura, pintura, música, cinema, teatro.
A expressão do artista, a mensagem que chega até o seu público, a sua obra de arte.
Não há manual de instrução, não há um código perfeito para se interpretar o que o artista quer dizer através de sua obra.
Toda obra de arte manipula os sentidos, aguça a imaginação do seu consumidor. A identificação entre artista e público é múltiplo facetada. A mesma obra atinge várias pessoas em sentimentos diferentes pois a mágica da interpretação é individual. É única.
Não me aventuro em nenhuma das artes citadas na linha inicial do texto embora eu realmente acredite que com alguma técnica, até poderia ser um médio escultor. Tenho vontade.
Gosto mesmo da literatura, gosto mesmo é das palavras, dos textos. É onde sinto menos vergonha, é onde costumo me abrir, navegar sobre vários oceanos diferentes, expor o que sinto sem o medo dos reflexos, das críticas e considerações.
Costumo dizer que o escritor é o alquimista das letras. É ele que tem o poder de encontrar a poção mágica que transforma tudo em ouro. As palavras. A mistura das letras tranforma inevitavelmente o leitor. Cada livro lido vale mais que qualquer viagem a qualquer lugar do mundo.
Escolher um tema, escolher uma personagem, criar um enredo, uma história coesa, com sentidos coletivos e individuais e, principalmente, prender a atenção de um leitor em meio a tantas páginas aparentemente iguais é realmente um dom absolutamente divino.
Quem escreve não precisa de motivos, não precisa de justificativas. Precisa apenas vontade e coesão.
Pega-se um fato, um lugar ou até mesmo um simples objeto e inicia-se um texto...Há poesia em qualquer objeto, há identidade e história a contar sobre qualquer ciosa.
Que tal falar sobre a identidade e a história de uma escova de cabelo?
Ora que qualquer escova de cabelo fora concebida com a única função de pentear, de manipular os fios de cabelo para que estes tomem a forma pretendida por seu usuário e nada além disso se espera deste simples objeto.
Do fim de sua linha de produção até a sua chegada às prateleiras para o consumo, uma escova de cabelo não tem identidade. A identidade de qualquer objeto começa a se formar a partir do momento que ele é escolhido por alguém de acordo com suas formas, tamanhos e cores.
Então a escova de cabelo, a heroína deste texto, agora tem seu dono. Tem sua identidade e com o tempo, de acordo com sua utilização e os lugares para onde vai, passa a fazer parte de um enredo, passa a ter uma história.
Casais apaixonados adoram fazer isso. Costumam nomear a música preferida, o local marcante, o perfume e a comida inesquecíveis, as palavras e apelidos individuais e até pequenas coisas como uma tampinha de refrigerante, um papel de bom bom, um laço de fita de uma embalagem qualquer adquirem um valor monumental.
Então a escova de cabelo passa a ter uma história, passa a ter mais valor por esta história do que pela sua função primordial. E este valor se multiplica ao ponto de, simplesmente, se tornar o maior elo que une duas pessoas no passado e presente. É o que restou de outras histórias, de outros tempos, de outras emoções.
E é esta a principal função do escritor. Encontrar perdidas, histórias até mesmo em pequenos objetos que passariam em branco durante toda a sua existência.
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