domingo, 9 de setembro de 2012

Reciprocidade




O grande segredo da convivência entre pessoas, a reciprocidade, o princípio que rege esta ação, que faz parte da oração de São Francisco de Assis, pois é dando que se recebe, não é apenas uma ação. A reciprocidade é um dom.
Não é um dom nato. A pessoa não nasce com o espírito da reciprocidade. Não é como a cor dos olhos, tipo de cabelo ou tom da pele. A reciprocidade é ensinada e aprendida, desde o início, desde o amamentar, o sono do bebê, a troca de carinhos entre mãe e filho.
Um dos grandes problemas, talvez a maior dificuldade de se aprender o princípio da reciprocidade é que ela pode aparecer em nossas vidas de duas formas diferentes.
A mais fácil é quando você começa recebendo alguma benfeitoria de alguém. O risco é grande pois a facilidade de se acostumar a receber sem ter que dar algo em troca acaba por tornar a pessoa exigente, egocêntrica e com uma falsa sensação de auto-suficiência muito grande. O egoísmo prevalesce e a partir daí esta pessoa passa a ter a sensação de que não está recebendo algo de alguém e sim que este alguém é obrigado a dar, a se doar o tempo todo.
A segunda forma de conhecer a reciprocidade é quando você começa a dar, a se doar, praticando a benfeitoria para alguém. Também há um risco enorme nesta forma pois a pessoa que se doa, que dá e acaba não recebendo algo em troca corre o risco de ver toda a sua auto estima escorrer, tornado-se muito insegura e incapaz de ver nos seus gestos de doação algum mérito, alguma dádiva. Então esta pessoa vai tornando-se frágil, com a percepção de incapacidade de viver sem a pessoa para qual se dá.
Então como praticar a reciprocidade? Será a reciprocidade uma questão de sorte? Será que não existe o caminho de mão dupla e as pessoas serão sempre divididas em duas classes, os aproveitadores e os frágeis?
Pois como citei, a reciprocidade é um dom e deve ser trabalhado desde os primeiros meses de vida de uma pessoa. A negociação com o filho é o primeiro fator que vai iniciar este processo de reciprocidade. É quando um pai e uma mãe pagam pelo trabalho doméstico, quando eles negociam um presente, um passeio, um brinquedo.
É a partir desta negociação que os pequenos entendem que é necessário dar algo em troca do que se recebe. Ganhar sem esforço é muito fácil. Ter tudo sem perder, nem que seja seu tempo é o que faz uma pessoa não aprender a dar. A se doar.
Querer muito alguma coisa e não a ter também é uma forma de incurtir o sentido de reciprocidade. Desejar algo e ter que trabalhar pelo que se deseja, se esforçar, traçar metas, é fundamental para exercitar o dom da  reciprocidade pois ensina a todos o valor que as coisas têm.
E qual é o antônimo de reciprocidade? Pergunta difícil e com diversas respostas porém nenhuma delas completamente correta. Seria egoísmo? Seria preguiça? Seria falta de amor? Seria desprendimento? Seria esperteza? 
Não sei ao certo o que se enquadraria para expressar o contrário de reciprocidade. Talvez o sentimento mais angustiante, o sentimento mais pertubador, mais avassalador que possa afligir nossa alma, pior que o desamor, que o ódio, que a vingança, pior que a ausência, o sentimento que mais corrói a vida de uma pessoa seja a ingratidão.
A ingratidão é severa, impiedosa e implacável. Ela não se explica. Ela não se revela e se instala a tal ponto que quando aparece, não deixa espaços para mais nada.
Com ela vem o arrependimento, a sensação de termos sido usados e também a sensação de perda de tempo.
O ingrato remete a outro texto meu, sobre parasitas pois o ingrato se instala e se prende até o último momento de nossas forças. O ingrato é conveniente e um exímio ilusionista. Enquanto o hospedeiro lhe é útil, enquanto o hospedeiro lhe é conveniente, o ingrato é agradável, é simpático e solícito. Porém, quando o ingrato alcança seu objetivo ou quando o hospedeiro não tem mais nada a oferecer, o ingrato se vai, não sem antes deixar em seu hospedeiro um absoluto vazio.
Então, mães e pais, tutores e curadores, não facilitem demais as vidas de seus filhos. Pratiquem neles suas habilidades de negociação, de reciprocidade. 
Pratiquem nos seus filhos a sensação de querer algo e não ter, para que os mesmos aprendam a dar valor às coisas, independente do seu valor.
Pratiquem nos seus filhos o dom de dar valor às pessoas e não aos objetos. ensinem o por favor, o muito obrigado, o sorriso e a falta de interesse além de seu próprio quintal.
O nosso quintal é o melhor lugar para se iniciar neste dom maravilhoso, a reciprocidade.



2 comentários:

  1. Muito bom, adorei o texto, fui fazer uma pesquisa sobre o antônimo de reciprocidade e achei este texto, estou muito satisfeito com a minha pesquisa rsrs.

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  2. Obrigado Aldrin Henrique. ESpero que tenha sido útil! E apareça sempre!

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