quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Filme de nossa vida

Algumas pessoas dizem que nos segundos que antecedem a morte, passa pela nossa cabeça o filme de nossas vidas. Que vemos em flashes, tudo o que vivemos, tudo o que sentimos, todas as pessoas que conhecemos no decorrer dos anos. Algumas pessoas dizem que temos a chance de recordarmos cada instante, cada lugar, cada história passada, cada história vivida.
Não há comprovação científica deste fato porém, deve haver alguma verdade pois são inúmeros os casos de pessoas que passaram por situação de quase morte e que retornam revelando terem assistido este filme assim como terem visto a luz ou algum ente querido que estava aguardando a passagem.
Tenho certo receio desta passagem. Tenho certo receio deste filme.
Não sei ainda por quantos anos viverei e nem quantas histórias ainda vou acrescentar ao meu filme mas temo que grande parte dos flashes que me forem apresentados, estejam em branco. Aliás, pensando melhor, talvez eu até prefira que estejam em branco do que mostrar a história que escreví ao longo destes referidos anos.
Fosse eu um diretor de cinema, com o direito de escolher toda a trilha sonora, todos os atores, todo o enredo, duração e gênero, com certeza eu faria um filme de comédia. Daquelas comédias que variam do pastelão, passando pelo humor crítico político social e terminando em um grande musical.
Mas não sou diretor de cinema, nem tampouco diretor de minha própria existência. Os enredos são apresentados aleatoriamente, os atores são inseridos em nossas vidas sem qualquer teste, sem qualquer indicação e vão interferindo no decorrer da trama até o seu final e os cenários mudam sem aviso prévio. Uma hora é comédia, no instante seguinte drama, depois terror. Só não há ficcção, De resto, tudo um pouco.
Mas enfim quando o filme for apresentado, nos instantes finais de minha vida e a tela retratar os 20 anos aos quais me refiro, vou preferir os flashes em branco às cenas. Não quero repetí-las nem em pensamento, se este direito me for dado. Melhor ainda seria se pudesse preencher este espaço com trailers de outros filmes, desenhos animados, documentários, esportes, enfim, qualquer outra coisa que me prenda a atenção e que valha a pena assistir.
Acreditem, não estou sofrendo do mal do século que a literatura retrata como sentimentalismo, onde o poeta morria de amor, nem tampouco do parnasianismo que retrata a coisa com a objetividade do realismo. Não...
Apenas peço o direito de me defender de imagens que não quero relembrar, apenas peço o direito de não revisar fases, fatos, coisas e pessoas que infelizmente fui acometido da presença.
E se, ao menos isto realmente existir, se realmente passa diante de nossos olhos o filme de nossa vida no instante de nossa morte, vou tentar, em um determinado instante, ir ao banheiro e perder grande parte deste revival!!!



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