O fato é que as pessoas geralmente preferem um rosto bonito e um corpo bem delineado à um conteúdo de mais profundidade. É fato também que a preferência sobre a juventude é maior do que a preferência sobre a experiência de uma vida bem vivida.
Existe uma inversão de valores onde o que temos para mostrar para os outros tem um peso bem maior sobre o que realmente precisamos para sermos felizes.
Muitas pessoas realmente acreditam na eterna busca pela felicidade e autoafirmação. Passam anos e anos, os melhores anos, em busca de algo que está em todo o lugar, na essência das pequenas coisas, no cotidiano, no enfadonho e entediante dia a dia, na rotina, no ser, no ar.
Insisto, não existe a perfeita caixinha contendo felicidade. Ela não se encontra, sente-se. A felicidade não está em lugar nenhum além de todos os lugares. Não existe a perfeição das pessoas, apenas o nosso nível de tolerância às pessoas é que varia de tempos em tempos.
Todos são legais, todos são simpáticos, todos são perfeitos dependendo do ângulo em que nos dispomos a vê-los. Da mesma forma que todos são inexplicavelmente irritantes e antipáticos o tempo todo.
Não existe amor por outra pessoa além do que queremos e nos dispomos a sentir por alguém em um determinado momento, em um determinado espaço de tempo em nossa vida.
O fato é que estamos nos acostumando a trocar de pessoas como se troca de roupas, como se troca de sabores de refrigerantes, restaurantes self-services, praias ou shoppings. Enjoamos das pessoas como se enjoa de comer amendoim em excesso por exemplo. Cansamos das pessoas da mesma forma que cansamos de ouvir a mesma música ou ir ao mesmo lugar.
Estamos tratando pessoas com efemeridade, com desdém e com insignificância. Estamos esquecendo que as pessoas têm o mesmo ciclo de vida que temos, que duram o mesmo que duramos e que sentem o mesmo que sentimos. Estamos comercializando os sentimentos, estamos aos poucos banalizando o duradouro, estamos ridicularizando o correto.
Batemos em nossos peitos bradando que somos fortes quando na verdade escondemos nossos medos através de atitudes que vão de encontro aos anseios da modernidade.
Somos lobos famintos, em uma alcatéia perdida no meio do mundo cada vez mais sem comida.
