Percebo agora, passados mais de 150 dias do auge da minha existencia que nós somos os únicos responsáveis pelas pessoas que entram e saem de nossas vidas. Não há interferência do meio externo e não existem influências suficientes capazes de exercer o poder da decisão sobre quem deve permanecer ou sair de nossos relacionamentos.
Durante 20 anos eu mantive as portas fechadas, olhando para o exterior apenas por janelas, contemplando a paisagem além do meu alcance tatil. Não que eu me visse como incapaz de interagir ou que faltasse vontade. A questão vai além, muito além disso. As portas ficaram fechadas por questões de moral, de educação, de princípios, de caráter.
Então, meio que enferrujado pelos anos dentro de casa, virei a engrenagem da fechadura e a porta se abriu. A princípio entrou a claridade e meus olhos acusaram o excesso de luz, não via com nitidez o que se apresentava à minha frente. Precisei usar mais o tato do que a visão.
Aos poucos o frescor do vento invadiu a minha casa, reciclando o ar, renovando, mudando até o cheiro de guardado, de mofo e de antigo que estava entrenhado no baú de minhas memórias.
Interessante foi ver que bastava apenas abrir a porta para pessoas começarem a entrar, assim mesmo, de repente, do nada. Interessante foi ver que pessoas já rondavam a casa, já estavam disposta a entrar antes.
Então inevitável foi o pensamento, foi a constatação de que isto sempre existiu na vida das outras pessoas. Inevitável foi constatar que não existe culpa de terceiros pelas pessoas que entram em nossas vidas. Somos nós quem abrimos as portas, somos nós os únicos detentores das chaves. Não há cópias. Justificativas existem sim, e como. Explicações para o fato, desculpas, argumentos.
Pela mesma porta que entram, pessoas saem. Pessoas vão, voltam ou não, ao seu bel prazer, à vontade de seus próprios caprichos. Não podemos aprisionar pessoas atrás de nossas portas pois não adianta. Quem entra, trás consigo suas próprias portas, suas próprias fechaduras e suas próprias escolhas.
Nossas vidas são, nada além de um jogo de portas abertas e portas fechadas.

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