terça-feira, 11 de março de 2014

Ela

Ele não imaginava que isso fosse acontecer novamente. Aliás, ele nem se lembrava de como isso era no passado pois já fazia um bom tempo desde a última vez. Apenas uma leve sensação de que algo estava mudando definitivamente. Um calafrio percorreu seu corpo como sinal de pressentimento.
O primeiro sinal desta mudança era a desconexão do tempo.
As horas perderam a igualdade entre sí; Algumas pareceiam durar mais e outras passavam como se fossem segundos ou até mesmo menos que um segundo, um único instante. Alguns dias pareciam não ter fim enquanto outros emendavam o raiar do sol com o anoitecer.
Uma confusão mental estabeleceu-se em sua cabeça. Por que isto estava acontecendo com o tempo? Por que as horas não eram medidas iguais? Quem estava alterando o seu relógio?
E sem perceber o seu espaço físico também sofreu alterações e as sensações de prazer e desconforto deixaram de ser estabelecidas conforme calor, frio, sono, dor, amplitude, fome e saciedade. As mais aprazíveis manhãs de domingo já não eram garantia de felicidade da mesma forma que uma tempestade fria tinha seus encantos. Ele via-se sem fome diante de um banquete enquanto palavras ou até mesmo um simples sorriso ou um olhar o alimentavam por dias.
Definitivamente algo estava acontecendo. Claro que algo estava acontecendo. Estava evidente mas os sentidos não o deixavam concatenar e identificar que todas estas mudanças estavam diretamente ligadas a um só motivo.
E foi assim meio que com medo, meio que com encanto que ele foi se adaptando a estas mudanças, deixando que as horas tivessem o tempo que quisessem ter, deixando que seus sentidos se manifestassem da forma como quisessem, incomodando em um momendo, fazendo cócegas em outro.
Aquele Déjà vu cada vez mais constante alterado apenas em seu personagem principal o fazia imaginar com frequência o mesmo rosto, o fazia ouvir sempre a mesma voz e então a razão bate-lhe avassaladoramente a face despertando-o da letargia que o atingira faz anos.E uma voz inconsciente ensurdece seus ouvidos gritando dentro dele. É ELA!!! Acorda! Aconteceu de novo! Mexa-se!
E só então ele percebeu que por mais que lutara contra, por mais forte que parecera estar, por mais certeza que tivera que tudo estava sob controle e que não deixaria se levar novamente pelas sutilezas das pessoas, encontrava-se preso neste labirinto tão comum.

E foi aí que ele, depois de libertar-se do passado, passou a ter pressa pelo futuro. Uma pressa saudável, sonhadora, com planos e bases. Um futuro que já não tinha tantas expectativas mostrou-se, revelou-se verdadeiro e amplo.

Então seria isto o amor? Foi a pergunta que ele mesmo se fez. E a pergunta trouxe uma resposta inesperada. O amor é diferente. O amor não se repete. O amor é sempre novo. Mais forte. Mais maduro, mais sensato e mais desafiador. O amor é mais verdadeiro e independente.
Simples assim, tudo passou a fazer sentido, desde a loucura das horas até a inconstância dos dias, pois cada coisa estava ligada a uma só pessoa. Ela.






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