quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sobrevida

As coisas de um modo geral andam meio invertidas atualmente.
Os pais transferem para as escolas a obrigação da educação de seus filhos.
As escolas já não mais formam jovens desenvolvendo suas vocações e sim orientando para o mercado mais rentável.
As faculdades não formam mais cabeças pensantes e sim profissionais repetitivos, presos a teses e teorias do passado.
Os ideais políticos, os sensos de moral e ética, a atitude e a rebeldia contra o sistema já não existem mais. Não há mais razão para lutar a não ser contra o dia a dia, contra o próximo, contra o vizinho, contra o amigo e contra o irmão.
A luta armada não reúne mais nos subsolos das cidades, nos porões dos edifícios, no campo ou em qualquer outro lugar os grupos movidos por ideais revolucionários. Não há mais o que revolucionar. A luta armada agora é com diplomas, com cursos, pós, mestrados e doutorados. A luta agora é por um lugar maior ao sol.
Caminhando e cantando e seguindo a canção, não somos mais todos iguais, de braços dados. Somos inimigos profissionais, somos pessoas isoladas dentro de nossos pertences cada vez mais supérfulos, cada vez menos duradouros. Para sobrevivermos, precisamos ser cada vez mais diferenciados dentre tantos iguais.
Na década de 1940 a expectativa de vida do homem brasileiro era de 44 anos. Hoje chega a 76, quase 77 anos. Ganhamos 32 anos de vida para continuar aprendendo, continuar tentando ser mais que os iguais e trabalhar mais e acumular mais bens para no futuro, não conseguirmos descansar.
O avanço da medicina, o desenvolvimento urbano, o saneamento, o desaparecimento de pragas e doenças contribuíram para cada vez mais nos escondermos dentro de nossas casas, em frente a computadores e televisores. Contribuíram para cada vez mais sermos mais calados, mais introspectos.
Tenho hoje 43 anos. Quase na idade média de vida do homem dos anos de 1940. Estou pensando que talvez eu me considere morto para a sociedade a partir de 2014 e aproveite meus outros tantos anos de sobrevida de uma forma menos burocrática, mais leve, mais livre.
Chega de competir, chega de acumular pois desta vida nada levarei, deixarei apenas palavras e atitudes.
Que venha então a minha tão sonhada sobrevida.
E viva a medicina!!!

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