Algumas coisas me pertencem, várias coisas, grandes e pequenas, importantes ou não, essenciais ou banais, algumas coisas me pertencem.
Algumas coisas pertencem só a mim, exclusivamente a mim e mais ninguém. Minhas sardas por exemplo, algumas pintas (venos melanocíticos) e até mesmo algumas verrugas!
O formato de meu nariz, meu dedo do pé meio torto e os dedos juntos do pé (sindactilia) são coisas próprias minhas. Minha meia calvície, minha miopia, a estatura (ou falta dela como alguns preferem dizer), minhas mãos pequenas e meus órgãos internos fazem parte de um conjunto de particularidades únicas, ímpares que colaboram para a construção desta pessoa que lhes escreve.
Alguns poucos bens materiais me pertencem. Meus discos, cds, dvds, meus textos, minhas roupas e perfumes, meus sapatos e tênis comprados com muito cuidado de acordo com minhas preferências.
Aliás, as preferências também são minhas, assim como as opções, assim como meus gostos e desgostos. O que faço ou o que deixo de fazer são coisas só minhas. As consequências não!
Algumas coisas me pertencem em regime de sociedade. As consequências do que faço por exemplo, o que atinge as pessoas que me rodeiam e mesmo as pessoas distantes. Minha prole, o espaço físico que ocupo, oxigênio inalado e gás carbônico expelidos são meus compartilhados, assim como foram os professores, os tios, tias, primos, primas avós e avôs, pai e mãe.
A minha rua não é só minha, meus vizinhos não são só meus.
Então minha vida é minha e a vivo individualmente e compartilhadamente ao mesmo tempo.
O que faço é meu e o resultado é compartilhado.
E a minha história? E os anos que viví até o dia de hoje e os que ainda viverei que eram para serem só meus e não foram?
Da minha história sei eu, das pequenas coisas da minha história, daquelas coisas que realmente fazem a diferença, que realmente diferenciam a pessoa que sou das pessoas que me cercam, só eu sei. Os meus segredos e sentimentos guardo para mim. Compartilho o comum, o trivial e o necessário. Deixo que saibam o que todos podem saber. As aflições, as angústias, as dores e os sofrimentos, estes, infelizmente, são só meus.
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