Se ela vem da solidão, se ela vem da troca, se ela vem do tempo passado ou do tempo futuro, se ela vem da ausência, se ela vem da rotina, se ela vem do medo, se ela vem das certezas ou das incertezas, se ela vem das promessas quebradas, se ela vem das palavras ditas ou não ditas, se ela vem de perto ou se vem de longe, se ela vem das notícias ou das faltas destas, se ela vem do erro ou do acerto, se ela vem de dia, de tarde ou de noite, se ela vem da realidade ou dos sonhos (ou melhor, dos pesadelos), se ela vem do olhar, se ela vem de uma data comemorativa, se ela vem dos encontros ou desencontros, se ela vem dos lugares, se ela vem das fotos, se ela vem das memórias, se ela vem dos sons ou dos cheiros, se ela vem do frio, do calor, do claro ou do escuro, se ela vem dos exageros, das faltas, dos excessos ou da escassez, se ela vem das profundezas do infinito ou da mais singela realidade, o que importa é que ela vem. Ah... ela vem sempre. Ela dói sempre, constante e insistente.
E onde ela dói? Ela dói no peito, dói nas pernas, dói nos braços e na cabeça. Ela dói nas veias, na pressão alta, nas arritmias, nas disritmias, no pulso e na garganta seca.
Ela dói no sono, dói na estrada, dói no carro, dói no hotel e no escritório. Ela dói na praia, no shopping, no clube e em casa, dói mais no pensamento.
Aprender a conviver com a dor é uma dádiva, é um prêmio. Saber guardar a dor dentro de um potezinho, escondido no fundo do armário, na última gaveta por baixo de todas as roupas é a forma de não deixar a dor ser percebida pelas pessoas próximas. Pintar um sorriso na cara, abrir os botões da blusa e ir de encontro ao próximo vento de peito aberto é o remédio, ou melhor, é a anestesia necessária para diminuir os efeitos da dor.
Nunca olhar para o relógio e ter a exata noção dos segundos que se sucedem e dos que se passaram é a mágica que a dor proporciona.
A dor não é tão assim maléfica. Aliás, o seu único defeito é que ela dói. Parece um pleonasmo, uma redundância mas é verdade. O único problema da dor é exatamente o fato de doer, de acharmos que não iremos aguentar, que não suportaremos e que não superaremos. Mas a dor é inevitavelmente necessária, é ela que traça nossos limites e é ela quem estabelece nossas regras, nossas capacidades. É exatamente a dor quem nos faz permanecermos vivos.
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