Se tem coisas que deixamos de acreditar nas nossas vidas com o passar do tempo, eu posso afirmar que na minha deixei de acreditar em duas. No passado e no futuro.
No passado deixei de acreditar quando percebi que ele não contava para decisões do presente. No passado deixei de acreditar pois nele ficam guardadas coisas que por mais verdadeiras, por mais intensas, por mais incríveis, já não existem mais, já foram, viraram lembranças que sem servem para confortar a alma.
A minha descrença no futuro vem das coisas que ouví no passado. Justamente no passado que não acredito mais ecoavam palavras soltas ao vento, palavras que eu pensei que pudesse reter em minhas mãos porém o som não se armazena. O som passa, diminui e se extingue como o fogo sem o oxigênio. Som e vácuo são inimigos. E hoje a vida é um imenso vácuo.
A minha descrença do futuro está diretamente relacionada ao passado sacrificado, dias perdidos, noites mal dormidas, privações de todas as formas que no fim, bem no fim da jornada, não levaram a lugar algum.
Mas não tenho descrença nos tempos verbais. Não tenho descrença nos dias, nas estações, nas datas comemorativas. Não tenho descrença no dia e na noite, nos segundos e nas horas.
Descreio nas pessoas, não em todas mas em algumas. Mas estas pessoas, ah... e que pessoas. Fundamentais. Desacreditadas, totalmente desacreditadas.
Não conhecemos o coração do igual, do semelhante. Não sabemos para que ele bate até que somos apresentado aos seus limites. Não aos nossos, aos deles.
Deixei de acreditar no passado e no futuro pelos meus motivos. Se isto vai mudar eu não sei. Só sei que me resta o presente pois é nele que eu vivo. É nele que as pessoas podem me surpreender, para o bem ou para o mal, isto não importa. É no presente que vivo, é no instante que habito, que interajo, que me encorajo e que me sustento. É no presente que eu vejo com lucidez o que está realmente acontecendo. É no flash, é no agora que a alma alheia se revela. E é justamente no presente que eu consigo ver, em conjunto, o quanto as pessoas carregam de passado e almejam de futuro.
É no presente em que vivo o único lugar onde as pessoas não me iludem, não me surpreendem. É no presente em que vivo o momento em que as armas estão igualitariamente disponíveis e ao alcance de todos. É no presente em que vivo que vive também a justiça. É no presente que todos são iguais.
Para os males da razão, um pouco de amor. Para os males de amor, um tanto de razão!

Não vale apena lembra
ResponderExcluirNão vale apena as lembranças
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