segunda-feira, 8 de outubro de 2012

19 de outubro

Sinceramente estava preocupado com o post do blog para esta data. Gostaria de escrever algo bem bonito, bem nostálgico e com muito amor. Relembrei vários momentos de minha vida, de vários sonhos, projetos, dificuldades, superações e promessas. Lembrei das crianças ainda bem pequenas, das músicas da Xuxa o tempo todo na tv e das cantigas no ônibus indo para a creche. Lembrei dos aniversários, dos natáis e dias das mães, dos pais, dias de ano novo que sempre estávamos na praia vendo os fogos de artifício.
Relembrei várias doenças, nebulizações, roupas que se perderam por conta do crescimento, dos cortes de cabelo, das idas à praia, de ônibus muitas vezes. Das internações, das pirraças, arranhões, pontos no queixo, shoppings, domingos em casa, churrascos, risos e choros.
Relembrei um pouco de cada fase, relembrei um pouco de cada momento. 
Relembrei com imparcialidade, relembrei por ter vivido, tentando entender as coisas, tentando achar motivos por tudo ter sido da forma como foi. Não encontrei nada diferente, nada fora do normal em nenhuma das situações. Não encontrei nada que justificasse o injustificável. 
Então comecei a comparar a minha vida com a vida de outras pessoas e pude constatar que esta também estava absolutamente dentro dos padrões de evolução. Estávamos crescendo, estávamos conquistando coisas, na velocidade em que elas podiam ser conquistadas. Mais ou menos da mesma forma como a vida das pessoas ao nosso redor também evoluía.
Tínhamos saúde, tínhamos uma casa, tínhamos nossos corpos em perfeito estado de produtividade, tínhamos o amor e a cumplicidade de nossos entes queridos.
Tínhamos tudo o que merecíamos, tínhamos tudo o que conseguimos ter. 
Eu, particularmente, não tinha mais grandes ambições, grandes planejamentos, não vislumbrava outra vida tão diferente da vida que eu tinha, uma vez que estávamos felizes.
E aí me dei conta das datas, como a proximidade do 19 de outubro, depois o 7 de novembro, depois natal, depois ano novo, depois 15 de maio e daí por diante. Percebí que haverão formaturas, haverão festas, haverão reuniões, haverão tantos dias importantes em que não haverá o que sempre houvera.
Fomos privados disso. Fazemos parte agora de estatística. Somos mais uma família que estatisticamente não deu certo e em que cada parte do par tem o direito de ser feliz independentemente de datas e comemorações.
Fazemos parte daqueles grupos de pessoas que tiveram que começar tudo de novo, em que a vida mostrou que não adiantava mais tentar junto e que separado as chances de felicidade aumentariam.
Fazemos parte daqueles grupos em que os novos psicólogos gostam de enaltecer a coragem e a determinação de dar uma virada na vida, de abdicar de tudo o que já se conseguiu em busca do momento, em busca do instantâneo.
Fazemos parte daquele grupo de pessoas em que sempre vai estar faltando alguém, seja no almoço de domingo no shopping, seja na páscoa, seja no dia das crianças, seja no nascimento dos netos, em qualquer ocasião.
Fazemos parte do grupo de pessoas que têm hora marcada para pegar e entregar os filhos na esquina de casa, na portaria dos edifícios, no fim de aula numa sexta feira. Fazemos parte do grupo de pessoas em que a felicidade estará sempre dividida.
Somos estatística agora. Mudamos de categoria. As crianças vão superar e vão entender um dia. Piada.
Não, não vão. Até para que a felicidade seja plenamente vivida, devemos torcer para que as crianças jamais entendam...
Então percebo que não haverá mais datas, não haverá mais comemoração por este ou por aquele dia. Os dias são iguais e tem sempre a mesma duração e importância. Não há um dia especial, não há uma data em que a felicidade foi maior ou menor.
Não quero me lembrar de um dia em que oficialmente depositei minha vida na vida de outra pessoa.
19 de outubro, dia do nascimento de Vinícius de Moraes, o poeta, nascimento de Dom Pedro I, o dia que Napoleão foi derrotado, O dia que Santos Dumont percorrei 11 km com seu avião os céus de Paris, o dia do nascimento de muitos Josés e Marias, o dia do casamento de muitos apaixonados, sonhadores, o dia da morte de muitas pessoas especiais na vida de alguém. 
São 24 horas como outras quaisquer, onde fatos acontecem, deixam de acontecer. Pessoas sonham e pessoas acordam, planejam, conquistam e fracassam. Só saberemos no decorrer dos outros dias.
Não há um dia especial sem os seguintes para mostrarem, para justificarem esta especialidade.



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