terça-feira, 16 de outubro de 2012

Remorsos

Existem várias formas de se perder uma pessoa ao longo da vida.
Umas por força da ação da natureza, outras por acidentes, outra por atitudes. Umas por vontade própria outras por imposição.
Quando perdemos um ente querido por falecimento, sofremos das maneiras como a situação exige. Desde o grau de parentesco, idade, afinidade e mesmo circunstâncias. 
Um parente distante, que não vemos faz tempo e que está sofrendo de uma doença progressiva nos fará falta porém de forma menos intensa do que um jovem que acabara de sofrer um acidente de automóvel ou vítima de um assaltante impiedoso.
Quando perdemos de súbito alguém e somos obrigados a continuar com nossa vida, naturalmente vamos nos adaptando e readaptando nosso estilo. Obviamente as lembranças são e se tornam mais acentuadas no início porém estas sinapses vão se enfraquecendo com o passar do tempo e as memórias mesmo continuando não causam as mesmas dores do início, até por que a perda fora inevitável e irreversível. O instinto de sobrevivência fala mais alto e os projetos de vida devem ser tocados.
Estudos indicam que em caso de casais, onde marido e mulher viviam em conflito e um dos dois acaba falecendo, a parte que fica leva em média 10 anos para superar a dor da perda e voltar a viver normalmente ao passo que um casal harmonioso quando ocorre o mesmo fato, esta média de tempo cai para apenas 5 anos. 
Isto comprova que a perda de alguém não está diretamente relacionada com a ausência futura e sim pelos atos feitos ou deixados incompletos no passado. A dor da perda está mais relacionada ao remorso do que propriamente do porvir.
Então, mesmo exaltando o futuro e mesmo querendo construir um futuro sempre melhor, podemos deduzir que estamos demasiadamente e inevitavelmente presos ao passado. Ao que fizemos e deixamos de fazer, aos remorsos e arrependimentos. 
O Passado rege todo nosso futuro e o problema está exatamente na impossibilidade de alterá-lo. O remorso está nesta categoria de sentimentos perpétuos, imutáveis. Podemos deixar de fazer algo ou mesmo fazer algo intencionalmente, podemos planejar o futuro porém o passado mesmo sepultado, nos persegue, ilumina e assombra todos os nossos momentos. É o único lugar que não alcançamos mais e é o único lugar que abriga os nossos erros.
E quando perdemos uma pessoa em vida? E quando, involuntariamente, contra nossa vontade, uma pessoa resolve morrer apenas na nossa vida?
São duas mortes pois ambas as pessoas envolvidas, a que quer morrer e a que sofre com a morte, possuem um passado comum.
Quais os sentimentos que nascerão a partir desta morte e quanto tempo estes irão durar? O passado é imutável e as memórias nos perseguirão para o resto da vida.

obs.: Neste texto devo ressaltar que o remorso não é um sentimento que carrego. Isto posso garantir.



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