quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Escultores

Mais do que uma profissão, uma arte, a manipulação de materiais para dar forma a algo que vêm da alma de seu criador, a escultura encanta nossos olhos à séculos e séculos.
Transformar madeira, pedra, ferro, vidro, metal, dando-lhes as mais diversas formas, tamanhos e cores é um dom que poucos têm.
Dar forma, criar algo novo, reciclar, tornar útil, agradável, decorativo, reflexivo por muitas vezes.
Então, acredito que somos todos escultores em vários momentos da vida pois temos o dom, muitas vezes não percebido, de transformar as pessoas com as quais convivemos.
A cada dia que passamos na presença de uma pessoa, vamos deixando nossa marca, nosso padrão, nossa forma, nosso jeito. Vamos aos pouco modificando as pessoas com as quais convivemos, na maioria das vezes ao nosso próprio favor, outras por acomodação, tantas outras por amor, carinho e cuidado.
O que realmente importa é que inevitavelmente moldamos de alguma forma toda e qualquer pessoa com a qual convivemos e por conta disso temos que ter um senso de responsabilidade imenso pois o resultado, a obra prima que criamos será analisada sob este aspecto. Os dividendos, os lucros, o deslumbramento pela obra será proporcional ao bom trabalho que desenvolvemos.
Difícil é nós darmos devida atenção à esta dádiva pois muitas vezes somos desconhecedores de tamanha responsabilidade e agimos com tal egoísmo que não acreditamos que o que torna as pessoas o que elas são depende diretamente da nossa ação sobre a matéria prima que são as suas vidas.
Não aceitamos o comportamento das pessoas, não concordamos com suas decisões, desrespeitamos suas vontades sem nos darmos conta que fomos nós mesmos os responsáveis pelo que recebemos pois passamos cada momento transformando aquelas pessoas no que elas são.
Mas da mesma forma que moldamos, somos moldados por cada pessoa que entra na nossa vida. Nos transformamos naquilo que as pessoas querem que sejamos ou ao menos no que elas merecem de nós.
Os relacionamentos humanos são extremamente sensíveis e inesperados. Uma rede de sentimentos e interesses, de se dar e receber sem fim. Decepções e alegrias, cobranças e realizações. Passamos toda nossa vida desta forma e quanto mais os tempos avançam, quanto mais a modernidade nos atinge, menos pessoas conseguem se relacionar de uma forma igual, sem exageros e sem diferenças.
O individualismo está cada vez mais imperando, cada vez mais prevalecendo em detrimento à relação baseada da troca. Queremos moldar, queremos ser escultores mas não aceitamos mais sermos matéria prima. Temos preguiça de aceitar a mudança que as pessoas geram em nós, temos egoísmo de sobra o que impede o caminho da volta. Abrimos apenas o caminho do receber, não aceitamos mais o dar, não aceitamos mais sermos cobrados pelos benefícios que recebemos.
Precisamos encontrar o ponto de equilíbrio entre escultor e matéria prima. Temos que recorrer imediatamente aos antigos, aos mais velhos e experientes, àquelas pessoas que conseguem exercer este dom, aprender com os mesmos a vencer estas barreiras do egoísmo, da inflexibilidade.
Temos que exercer o dom de dar, de ceder, de compartilhar, de nos colocarmos às vezes em segundo plano para deixar outra pessoa brilhar, temos que aprender a ensinar, comemorar as vitórias de outras pessoas, aprender que a realização pessoal depende de alimentar sonhos e esperanças em nossos semelhantes.
Temos que aprender a viver em comunidade, temos que aprender a não mentir, independente da dor causada pela verdade, temos que aprender o contentamento, a saborear o momento após uma luta, temos que aprender a descançar, temos que aprender que conceitos e concepções existem o tempo todo sobre nós porém não tem importância alguma pois não precisamos ser iguais para sermos importantes. Temos que aprender para quem realmente precisamos ser importantes pois podemos passar anos e anos tentando chamar a atenção de alguém que no fim das contas não vale o sacrifício e deixamos pessoas nos esperando, com suas vidas paradas, aguardando por nós.
Temos que aprender que o sucesso é efêmero, que o insucesso é efêmero, que um dia atrás do outro é a regra mais fundamental que existe. Temos que aprender sobre vários sabores porém gostar mesmo de poucos. Temos que ouvir várias músicas, vários ritmos, vestir roupas coloridas, conhecer vários lugares mas ter sempre um lugar acolhedor para voltar.
Temos que aprender a não fechar portas, a não usar os sentimentos e boa fé das pessoas. Temos que aprender a guardar as pessoas, cuidar delas, ou dela, que seja apenas uma só porém a suficiente.
Temos que aprender a escolher e seguir nossa escolha até o fim pois no fim, tudo seria igual em qualquer caminho. Não existe felicidade no fim da estrada. A felicidade está no caminhar. A felicidade está no que se apanha no meio do caminho, nos valores agredados, nos filhos, na família, nos momentos, nas datas, no sorriso e no choro. Existe felicidade até na dor. O fim da estrada é apenas o fim. A felicidade não precisa ser um objetivo ou um objeto. A felicidade precisa ser propagada.
Precisamos aprender a ser matéria prima nas mãos de nossos escultores.

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