Nossos antepassados passaram a ser os dominadores entre todas as espécies quando conseguiram dominar o fogo e dele tirar proveito.
Uma outra grande conquista que evoluiu nossa espécie foi a invenção da roda. A partir dela e de seu uso, a vida passou a ter uma nova conotação e a sobrevivência passou a ser muito mais fácil e satisfatória.
Estas duas conquistas, o fogo e a roda dão muito sentido às metáforas que passo a usar agora neste texto em relação aos sentimentos amorosos que CIRCULAM nossa vida (primeira roda).
Nosso primeiro relacionamento amoroso se dá com a mãe (no caso dos meninos) e com o pai (no caso das meninas).
Logo em seguida, já na infância, sentimos aquele ódio inexplicável pelo sexo oposto, onde puxamos os cabelos, batemos, beliscamos, mordemos sem saber o porquê. Sabemos que dentro de nós alguma coisa acontece que nos leva a sentir este desejo de atacar o sexo oposto. Isso vai acontecendo até mais ou menos 8, 9 anos de idade....
Depois os grupos se desfazem, se categorizam por sexo e as meninas se juntam com suas amigas e os meninos só pensam em futebol e videogames.
As meninas colecionam posteres dos artistas famosos, pintam as unhas, passam batons, vêem filmes românticos, usam roupas iguais, contam seus segredos umas para as outras.
Os meninos se sujam, falam palavrão, se machucam, saem na briga, andam de skate, faltam aulas, ficam de castigo.
Até que, em cada uma destas turminhas, em cada um destes grupos, um casalzinho se destaca, começam a se olhar de forma diferente, sofrem a influência dos demais (as meninas ajudando e os meninos tentando impedir) e a união acaba acontecendo. É o fogo da paixão, é a roda da vida que traz o que antes era inimigo para o lado do amor.
O complexo de Édipo se quebra e os adolescentes se vêem prontos para o amor. E riem, e se desligam da família, dos amigos, das aulas, das vocações profissionais. Curtem o momento como se este fosse eterno.
E todo este amor dura exatamente o momento da eternidade. E todo este amor é vivido, é devorado, é sentido com todas as forças pois é este o amor puro e verdadeiro. É este o amor pleno, o amor grátis, o amor que não se compra, que não se troca. é este o amor que idealiza o outro, que enaltece, que não vê defeitos e supera as dificuldades.
É este o amor que os adultos não aceitam, que colocam dificuldades, que impedem, que criticam, que julgam passageiro. É este amor que todos tratam com indiferença, que comentam "uma hora vai passar", "eu já passei por isso e no fim, acabei casando com outro", "isto é fogo de palha e coisa de adolescente".
E são estes comentários, e é justamente esta falta de apoio, esta falta de credulidade nos sentimentos dos adolescentes que por fim contribuem para o afastamento do casalzinho. E o fogo se apaga, e a roda da vida passa e leva cada um para uma extremidade do mundo.
E cada um segue a sua vida, e cada um toma o seu rumo. Cada um, distante, toma suas decisões, se envolve com outra pessoa, constitui família, cria e educa seus filhos em um relacionamento normal.
E isto pode durar a eternidade. E isto pode durar apenas o suficiente. Isto vai depender mais uma vez da roda da vida que em uma de suas voltas, faz as engrenagens se encaixarem novamente, faz o fogo voltar a acender, a queimar, a arder.
E a vida pode mostrar a todos que aquele amor, inconsequente, aquele amor irreverente, de adolescente, permaneceu escondido o tempo todo, a brasa acesa, no fundo da alma, dentro dos pensamentos, adormecidos para um despertar absoluto e definitivo. Para o fogo que tudo queima, que tudo clareia.
E clareia tanto que o passado volta, começa exatamente de onde parou, como se o intervalo não houvesse existido, adolescentes de novo, amor incondicional novamente. Mostrando para quem duvidava que amor verdadeiro é o primeiro. Amor primeiro não morre e a chama não apaga.
E nós sabemos que mesmo tendo inventado a roda, mesmo tendo conseguido controlar o fogo, nós humanos somos absolutamente incapazes diante do fogo do amor e das voltas que a vida dá.


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