Alguém já reparou na cena de uma criança na praia indo buscar água em seu pequeno balde na margem para encher um buraco que ela mesma cavara mais para cima?
É uma cena divertida pois a criança carrega aquele balde cheio de água, coloca cuidadosamente a água no pequeno buraco, a água infiltra pela areia abaixo e a criança corre novamente em direção do mar para pegar mais pois em sua inocente cabecinha, uma hora a água vai parar de fugir pelo buraco e sua piscininha ficará cheia.
Os pais se divertem e dão risadas daquele esforço inútil de seus filhos.
E as crianças vão crescendo, vão perdendo a inocência e acabam esquecendo desta pequena lição da vida.
Quantas vezes vemos pessoas com as mãos em concha, segurando em uma delas um punhado de água e na outra um punhado de terra, subindo os degraus da vida?
Com muito cuidado, com muito esforço para que não deixe cair uma gota ou um grão, as pessoas olham para frente, tentando manter o equilíbrio, com o suor no rosto, pernas trêmulas, sem sequer poder olhar para os lados, passo a passo, com aqueles dois materiais preciosos em suas mãos.
Inevitavelmente, ao final do caminho, muito terá se perdido, muito terá descuidadamente caído de suas mãos, um pouco de água e um pouco de terra. Algumas vezes nada sobra e chega-se no final da estrada com as mãos vazias.
Vamos prosseguir esta metáfora denominando a terra de família com todas as suas tradições, ensinamentos, todas as suas morais, todos os seus caráteres. Com todos os seus ensinamentos e hierarquias, com todos os passados e todos os futuros representados por um punhado de terra.
Vamos denomiar a água de carreira, de emprego, de dinheiro que sacia, que mata a sede, mata a fome. Os bens materiais e tudo o que o dinheiro pode proporcionar.
É assim que caminhamos na nossa estrada, é assim que vamos tentando equilibrar as duas matérias para não deixar que nada se perca pelo caminho. Mas é impossível.
Muitas vezes nem é preciso chegar ao fim da estrada para perceber que tudo se perdeu pelo caminho em um e outro descuido, entre um e outro deslize. Seja com a família, seja com a carreira.
Quantos adultos conhecemos que não são comletos, que lhes faltam um bom emprego, uma realização profissional ou quantos mais não têm uma família para se reunir aos domingos, celebrar e discutir as coisas da vida?
Quantas pessoas conhecemos que se lamentam do passado deixado para trás, da terra que virou poeira enquanto tentava não deixar a água cair?
Quantas pessoas conhecemos que estão neste momento passando por isso?
Mas vejam como a vida é sábia e vejam como somos absolutamente ignorantes quando se trata de aproveitarmos as oportunidades de raciocínio que temos...
Uma mão com água, outra com terra...
Unindo as duas, BARRO... A origem do homem. BARRO, A concepção da divindade.
BARRO, a condensação da terra e da água, a família e a carreira unidas em uma mistura homogênea, maleável e muito mais fácil de carregar com as duas mãos ao mesmo tempo.
Fôssemos nós mais inteligentes, mais crianças por mais tempo, perceberíamos a sabedoria daquela criancinha que na verdade não estava querendo encher seu buraco com água e sim criando o barro para moldar seus castelos.
Viver melhor a vida, deixar sua marca cimentada na estrada implica em sujar as mãos de BARRO....

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