Independência e Insegurança
Passei parte de minha tarde de ontem no hospital, na emerência. Nâo estava doente e nem sofri qualquer tipo de acidente. Estava de acompanhante. Fui prestar socorro a uma amiga que estava sentindo-se mal. Infecção intestinal por um tipo qualquer de bactéria.
Uma moça simples, jovem, muito bonita. Veio do interior do Espírito Santo para morar na capital, para estudar e trabalhar, em busca de um "futuro melhor", em busca de melhores condições e conhecimento.
Bonita, baixinha e determinada. Quando ela fala de sí, de suas qualidades, a primeira que ela cita é ser independente. Seus olhos brilham quando ela diz que não depende de ninguém. Com orgulho ela diz que trabalha, tem seu dinheiro, paga seu aluguel, compra suas roupas, vai aonde quer na hora que quer e que não tem que dar satisfações a ninguém.
Quando lhe pergunto pelo seu coração invariavelmente ela diz que está bem, que está sozinha por opção própria, que não quer saber de relacionamentos, que já se machucou muito no passado, que está focando nos estudos, que quer uma boa carreira, que vai sair do mercado financeiro e por este caminho ela segue até que o tema coração é colocado à margem da conversa.
E ontem estava ela deitada na cama do setor de emergência do hospital, soro com buscopan na veia de um lado e de mãos dadas comigo do outro.
Seus dedos acariciavam os meus e seus olhos emitiam um brilho que misturava dor, sonolência e angústia.
Perguntei em meus pensamentos se havia outra pessoa para estar alí no meu lugar. Um parente, um outro amigo ou até mesmo uma pessoa pela qual ela pudesse nutrir um sentimento mais profundo. Tinha mesmo que ser eu?
Tenho certeza de que fui uma boa compania e que conseguí fazer daquelas horas as mais agradáveis possíveis dada a situação em que ela se encontrava porém, não pude deixar de correlacionar a sua independência tão propagada com a sua insegurança em relação às pessoas.
Já escreví sobre isto mas este assunto deveria ser debatido sob diversos aspectos pois é uma fonte interminável de controvérsias. A independência da Mulher.
Historicamente, quem tem em torno de 40 anos atualmente, é fruto de uma geração em que seus avós penavam com a ditadura militar no Brasil, eram influenciados pelas notícias do pós guerra mundial, as modas e costumes europeus e americanos, a juventude, o rock de Elvis e dos Beatles.
O Brasil vivia seu primeiro ciclo de êxodo rural intensivo, as cidades cresciam, sem planejamento, sem infraestrutura. Os empregos eram criados sem qualificação, de acordo com a necessidade dos patrões, a taxa de natalidade beirava os cinco filhos por casal, a estrutura da família absolutamente patriarcal e a mão de ferro da ditadura vigiando a tudo e a todos.
Os jornais e revistas censurados, propagavam culturas internacionais e o modelo de vida era absolutamente copiado da Europa e Estados Unidos.
Sonhava-se muito. Vivia-se pouco.
O sofrimento destas famílias da década de 1950, 1960, 1970, controladas pelo governo, infuenciadas pelas culturas internacionais incurtiu em seus filhos, uma liberdade domiciliar muito grande. Compensava-se a opressão do governo com a idéia de que os filhos seriam o futuro da nação à qualquer preço. Seriam os filhos os responsáveis pela real independência do Brasil. Criava-se os filhos sempre para lutar pelos seus direitos, a batalhar pelos estudos para ter sucesso na vida, colocava-se como principal objetivo para os filhos a não dependência. Criavam-se crianças para serem fortes, culturalmente, socialmente, financeiramente. Esqueceu-se da família. Não estou direcionando nem generalizando. Estou afirmando que para conseguir a independência política, para conseguir os direitos de cidadãos, para conseguir a liberdade, as famílias foram obrigadas a criarem filhos fortes e independentes. Esqueceu-se do emocional, da estabilidade, da hierarquia familiar e a estrutura das famílias foi gradativamente mudando e o que antes era patriarcal, passou a ser indefinido.
Os homens sofreram porém acho que as mulheres passaram por momentos muito piores. Os movimentos feministas pipocavam pelo mundo e chegavam até nosso país as lutas pelos direitos de igualdade de uma forma avassaladora.
Muitas mulheres se destacaram, muitos lares ruíram e as crianças foram crescendo e acostumando com o sentido de igualdade entre os sexos.
Se em algum momento do texto dei a entender que sou machista ou que tenho preconceitos contra o poder feminino, este é o momento ideal para ressaltar que absolutamente isto não faz sentido. Dentre as pessoas que conheço, talvez eu seja o maior admirador que existe das mulheres quer seja como profissional, quer seja como provedora, quer seja como sexo forte.
Porém, vendo aquela moça deitada, com dores, frágil e delicada, precisando de carinho, afago e atenção, com aquelas idéias sobre independência, meu instinto masculino e provedor falou mais alto.
Acredito que a mulher deva ser cantada em versos e prosas, que a mulher deve ser bela e cheirosa, que seu sorriso deva ser eterno e tranquilizante. Acredito que a mulher deve ser protegida, que deve ser cuidada pois é dela que depende a raça humana. É ela que é responsável pela perpetuação da nossa espécie. É a mulher que pode dar ao homem toda a tranquilidade e segurança que ele necessita para ser o provedor principal.
Faz-me pensar com tristeza quando passo nos bares de esquina e os vejo cheios de homens bebendo e jogando dominó ou porrinha. Quando vejo nos campos de futebol de várzea aqueles times todo participando de campeonatos, aqueles churrascos com os amigos. Onde estão as mulheres, as esposas desses homens? Em casa? Cuidando dos filhos?
E onde estão os filhos destes homens? Crescendo acostumados com esta situação? Achando que isto tudo é normal?
Faz-me pensar com tristeza quando vejo as mulheres absolutamente empenhadas com o trabalho e com a afirmação profissional. Com os cursos e aprendizado. Comprometendo todo o seu tempo fora de casa. Onde estão os maridos destas mulheres? Em casa ou nos bares com os amigos? Onde estão os filhos destas mulheres? Crescendo acostumados com esta situação? Achando que tudo isto é normal?
Faz-me pensar com tristeza quando vejo estas mulheres de micaretas, bailes funks, raves, boates, forrós, marias chuteiras banalizando os relacionamentos por conta de aceitação social, para evidência e liberdade, direitos iguais.
A triste constatação que faço dessa história toda é que cada vez mais nossas famílias, escolas e faculdades deixam de formar pessoas com idéias, deixam de formar pensadores para formar meros profissionais para o mercado de trabalho.
A excelência, perfeição, conhecimento e profissionalismo em detrimento à estabilidade sentimental.

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