Muito interessante a contribuição da televisão quando comparamos os comportamentos pessoais ao longo dos últimos 60 anos no Brasil.
Não tenho esta idade porém material de pesquisa não me falta, além de ser um telespectador assíduo desde a década de 1970.
lembro-me bem que comecei meu fascínio por esta engenhoca com o Vila Sésamo e o inesquecível Garibaldi. Depois vieram os outros programas como Shazan Cherife e Companhia, Sítio do Pica Pau amarelo, TV Globinho e tantos mais.
Mas o brasileiro gosta mesmo é de novelas. E como as novelas são a paixão, a preferência nacional, os seus autores são verdadeiros formadores de opinião, são os responsáveis pelas mudanças de comportamento pois nós imitamos o que gostamos.
Mas por que gostamos? Eis a pergunta crucial. Por que vilões e mocinhos lutam o tempo todo, durante meses e nós nos envolvemos tanto? Será porque a pobreza é mascarada nas novelas e a riqueza é exarcebada? Será que são os corpos malhados, desnudos, os rostos lindos e os dentes perfeitos? Será que é pelo motivo de mostrar as cenas na maioria das vezes em casa, nos bares, festas, eventos e quase nunca nos ônibus, escolas ou trabalhos? Será que é porque sempre tem uma saída milagrosa para as dificuldades, seja herança, seja loteria ou roubalheira?
Sei lá.. Só sei que a novela brasileira está longe de mostrar a realidade brasileira. 99% dos casais se desfazem e se trocam durante toda a trama para que no fim, reconhecer que o início era o certo.
Passamos a novela inteira torcendo para os mocinhos e mocinhas se acertarem no final enquanto que no meio eles trocam de pares o tempo todo. Ficam juntos apenas na primeira semana e no último capítulo. Sempre torcemos para os casamentos no final. O bem vence o mal.
Não praticamos isto no nosso dia a dia. Acostumamos com o meio das novelas. Praticamos a primeira semana, agimos como os outros meses para ver no fim que era apenas o último capítulo que importava.
O certo é o tradicional, o certo é o antigo, o romântico. A mulher passa a vida inteira sonhando com o príncipe encantado mas enquanto está acordada age como uma piriguete, como uma cachorra, como uma patricinha.
O homem já não precisa mais se esforçar para encontrar a mulher ideal pois a maioria das jovens está globalizada. Gosto desta palavra, globalizada pois está tudo igual no mundo. Não há mais horário para chegar em casa, não há mais transgreção às regras pois não há mais regras. Não há mais respeito aos pais pois estes lutaram tanto tempo por direitos que hoje confundem direitos com liberdade. Esquecem dos deveres, esquecem da hierarquia.
Claro que existem excessões às regras mas estas pessoas que deveriam ser as normais sofrem de bulling (outra palavra da moda) e são excluídas do convívio social. São discriminadas, taxadas de antiquadas, quadradas, iludidas ou até mesmo de mal amadas.
A cultura do corpo, as roupas da moda, as músicas, as festas, tudo isso "evoluiu" e colocou os bons costumes familiares de escanteio.
Meninas grávidas, com filhos pequenos, desiludidas com o amor, com o companheiro, tendo que trabalhar para sustentar os filhos que ficam com as avós e estudar a noite pois tiveram que abandonar a escola durante a gestação e amamentação dos filhos.
Rapazes na idade produtiva, na idade para crescer financeiramente, constituir família sólida tendo que pagar pensão ou pensões, ausentes do desenvolvimento dos filhos pois na maioria das vezes a ruptura fora dramática para todos.
Esta é a nossa realidade. Este é o preço a se pagar para ser moderno. Este é o que se precisa saber e fazer para ser normal e aceito na comunidade.
Mudar os canais, não da televisão mas sim das informações para nossas crianças, mostrar a elas que o certo é a família, o respeito a pai e mãe, o casamento e a luta para se conseguir as coisas é a melhor forma de resgatarmos um passado não muito distante e que, nostalgicamente, está fadado a ser só passado.




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