A principal definição que eu conseguí conceber sobre o arrependimento é o confronto entre o passado e o futuro.
É no exato momento em que queremos seguir em frente e algo nos impede. No exato momento que queremos tomar uma decisão e não conseguimos.
Geralmente não enxergamos os motivos mas se voltarmos no passado iremos entender que foram nossas atitudes lá atrás que impedem que façamos algo hoje, o que deixamos mal resolvido no passado não deixa o futuro acontecer.
Temos o péssimo hábito de culpar a vida, de achar que tudo dá certo para os outros e não para nós. Temos a sensação de que tudo é mais dificil a partir de certo momento. Vemos as pessoas rindo, com felicidade nos olhos, nas atitudes. Vemos as pessoas em comunhão e não conseguimos encontrar nestas pessoas as dificuldades pelas quais passamos.
Pois então, é exatamente neste momento em que o passado se faz valer, se faz forte e resolve parar o futuro, confrontar o futuro. Proibir que algo vá à frente sem antes corrigir o que de mal tem nele.
É como se fosse uma pororoca, onde o mar é o passado e o rio futuro. O mar invade o rio em algum momento, impedindo que o rio lance suas águas sobre ele.
Então acredito que o arrependimento é aquela interminável onda que se forma quando as duas águas se enfrentam. O passado e o futuro se degladiando no presente. O passado cobrando seu preço e o futuro incerto, esperando a tormenta passar. Este tempo corrói nossa alma. Este é o tempo que dura o arrependimento, este tempo é o tempo que dói, é o tempo que pensamos que poderíamos ter feito diferente, que poderíamos ter esperado um pouco mais, que não deveríamos ter esperado tanto, que deveríamos fazer diferente o que realmente fizemos, é o tempo da prestação de contas, este é o tempo que nossos fantasmas nos assombram. Fôssemos nós mortos, diria que este tempo poderia ser o limbo...
Esta onda, esta pororoca, estas águas impiedosas doem, causam sofrimento e medo. Medo das críticas, medo dos olhos das pessoas que tentaram nos avisar, medo das palavras críticas, medo das concepções, medo do "tá vendo, falta de aviso não foi", "e você que tinha tudo", "como sua vida era boa e você não aceitou, jogou tudo fora", "agora não adianta chorar o leite derramado", "só lamento por você".
Todas as pessoas competem entre sí e todas querem ter a sua razão como única e absoluta. E estas cobranças virão, ao certo virão.
Cobramos até de nós mesmos. Passamos a ter medo até de nosso próprio senso crítico que, por mais fraco que seja, por mais que perdoemos nossas próprias atitudes e justifiquemos no presente nossos erros do passado, o discernimento sobre nossas atitudes nos tira o sono, nos priva de alegrias e nos enche de pororoca,digo, arrependimento.
E como diriam meus avós, de arrependidos o inferno está cheio.

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