Vó Laura

Uma prima, escritora muito corajosa, solicitou que cada membro da família escrevesse um pequeno texto com poucas linhas, sintetizando a importância que a nossa matriarca teve na vida de cada um. Confesso que a tarefa não é fácil pois além de precisar escrever em um determinado tempo, corro o risco de cair no lugar comum. Serão dezenas de depoimentos de filhos, netos, bisnetos, noras, genros, conhecidos, parentes, enfim, uma infinidade de palavras que dirão, acredito eu, no fim, a mesma coisa.

Mas como fugir deste lugar comum e acrescentar algo além de original, verdadeiro?

Como falar de uma pessoa que jamais terá conhecimento sobre minhas palavras?

E como falar dela, disvinculando o seu nome do falecido marido?

Digo isto por que o patriarca, Sr João Gonçalves, sempre foi fisicamente mais presente na vida de todos, principalmente dos netos. Era ele que sempre estava indo e vindo, dando um dinheirinho para os doces e revistinhas em quadrinhos, era ele o motorista e aquele que brincava e no meu caso e da minha irmã, vinha mais vezes a Vitória que a avó.

Então, em uma conversa com minha mãe e minha irmã eu levantei a seguinte questão: Por que ele era assim e fazia isso tudo por todos?

A resposta é simples e salta os olhos. Eles não eram um casal. Eles eram uma só pessoa com as atribuições muito bem divididas. Era ela quem administrava, era ela quem cuidava da casa, dos conflitos entre os 10 filhos, dos ensinamentos e conselhos sobre os netos. Era ela quem deixava tudo em ordem para que ele estivesse presente. Era ela quem ficava para ele sair. Era ela quem se calava para ele falar com todos com tanta sabedoria e agilidade.

Eles eram como um só. Eles se completavam e assim conseguiam atingir a todos com suas neutralidades.

Ela escrevia o roteiro, ele interpretava o papel principal. Sem a suas palavras, ele nao seria nada, sem ele para atuar, suas palavras não chegariam até nós.

Vó Laura!!!

Chupa esta manga minha prima escritora!

E tarefa concluída!!!