Adoro a minha casa. vivo nela faz 11 anos e quase nada mudou. Gosto de chegar no portão e ver o Lucca esperando para sair e fazer o seu xixi no muro do vizinho, descer a rua e sair marcando território apesar dos meus gritos para ele voltar. Guardo o carro na garagem já imaginando que tenho um trabalho inadiável de lavar a varanda por conta do que o cachorro não faz na rua.... Vida bandida.
Abro a porta da sala e coloco mais um par de sapatos embaixo da estante da sala, passo os olhos e conto, já são 4 pares, um meu e 3 das meninas. Acendo a luz amarela do teto e tudo fica na penumbra, sinto o cheiro quente da sala me invadindo o corpo. Coisa boa! Aparentemente apenas a poeira sob os móveis destoam da arrumação. Uma almofada no chão e mais três no sofá. Coisa simples de se arrumar.
Entro no quarto, a cama ainda desarrumada porém não há nenhuma roupa para passar e nem guardar. O cheiro do quarto ainda é o mesmo cheiro quente da sala, me dá a certeza de que estou no lugar certo e na hora certa depois de um dia de trabalho. É reconfortante ter um lugar para estar, um lugar para se sentir dono, se sentir rei apesar de não passar de um palhaço.
A cozinha, o banheiro, os quartos das meninas, área de serviço, o quintal com mato para ser capinado. Tudo como sempre, tudo é o meu canto, o meu refugo.
Não sou de muito luxo e ostentação, gosto da simplicidade perpetuada na segurança. Gosto da calmaria, do sossego. Não me apego muito ao novo nem às mudanças. Gosto do compromisso. Gosto do que tenho e não arrisco perder pelo desconhecido.
Adoro minha casa e dela sinto falta. Sinto falta do barulho, da movimentação, da espera interminável pela chegada que quem nela mora, sinto falta da bagunça, das roupas jogadas pelo chão, da pia do banheiro cheia de marcas de pasta de dente, os fios de cabelo no ralo.
Sinto falta dos banhos quentes intermináveis e do creme para cabelo espalhado no chão do banheiro.
Gosto de tudo isso. É isso que faz de uma casa, um lar. São as individualidades, são as coisas do dia a dia, a rotina. Mais do mesmo sempre.
Em uma casa sempre haverá camas, guarda-roupas, sofás, televisores, mesas, cadeiras, fogões e geladeiras. Em uma casa sempre haverá gente.
Em um lar, há um segundo exato para se levantar todos os dias, passar pelo corredor e ver as filhas dormindo, uma debaixo da coberta e a outra com as pernas dobradas como se estivesse sentada. Em um lar há uma porta de geladeira que ficou aberta, um xixí de cachorro no canto do sofá, uma peça de roupa jogada no lado do guarda roupas toda empoeirada, em um lar há falta de dinheiro, contas atrasadas, há coisas para jogar fora e coisas para comprar. Em um lar há concordâncias e desencontros, há brigas e roconciliações, em um lar há aprendizado constante.
Uma casa é constituída por tijolos, lajotas, cimento, madeira e objeitos. Um lar é constituído por diversas qualidades, usos e costumes, hábitos e vícios.
Casas são iguais, lares são únicos. Lares são eternos e indestrutíveis.
Feliz a geração que se perpetua, que cria seus filhos e netos em um mesmo lar. Feliz um casal que supera suas crises financeiras e sentimentais proporcionando a seus filhos os exemplos maiores, mais importantes para a solidificação de uma família.
Em uma família, o importante é agir como em uma guerra quando um soldado ferido não consegue mais andar. Sempre os companheiros o carregam e não deixam ele morrer no campo de batalha. Temos que estar preparados para carregar no colo em algum momento aquela pessoa que não anda mais junto, que não se acha capaz de continuar na guerra. Caso contrário, o lar volta a ser só uma casa.
Sinto saudade, não de minha casa mas sim de meu lar.

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