Como humanos e por instinto, temos uma capacidade imensa de sermos enganados por quem amamos proporcionalmente ao poder de perdoar.
Temos um péssimo hábito, porém inevitável, de tentar de todas as formas não deixar que as pessoas que amamos tomem o caminho errado, pensem de uma forma equivocada, tomem atitudes improcedentes, usem substâncias nocivas, se envolvam com gente que não presta.
Lutamos muito por isso. Queremos blindar quem amamos de toda a dor e sofrimento possível e por conta disso acabamos por achar que podemos pensar por estas pessoas. Achamos que podemos decidir por elas, que podemos caminhar por elas.
Carregamos estas pessoas no colo, levando-as para longe de tudo e de todos. Regurgitamos sua comida se for preciso.
Com isso, acabamos errando e errando feio. Não tem como entrar em uma pessoa para evitar que ela sofra e mostrar a ela o que é certo e o que é errado. Por um motivo simples. Nós mesmo não temos certeza do que é certo ou errado. Não temos este poder Divino de determinar, adjetivar ou categorizar atitudes.
Um outro fator importantíssimo é que quando evitamos o contato com a bactéria, com o germe, com o vírus, o corpo não cria resistência, da mesma forma de que quando absorvemos o sofrimento e o erro alheio não o ensinamos a decidir com discernimento, não o ensinamos a fazer as escolhas certas, não o deixamos suportar a dificuldade pois sempre as escondemos, não o ensinamos a pensar no próximo, não o deixamos a aprender as consequências de suas atitudes, não o deixamos ser toleráveis.
Criamos pessoas frágeis emocionalmente, criamos pessoas individualistas e inconformadas quando qualquer coisa não sai à sua maneira ou qualquer obstáculo aparece. Criamos pessoas egoístas e egocêntricas. Criamos pessoas que não têm a capacidade de contemplar o que se tem, olhando sempre para o algo mais, pessoas absolutamente insatisfeitas.
Criamos pessoas tão certas de nossa dedicação e nosso apoio que as mesmas acabam ouvindo com mais ênfase qualquer outra pessoa, desconsiderando nossos ensinamentos, desconsiderando nossos atributos como se estes fossem uma mera obrigação.
A coisa chega a tal ponto que passamos a ser vistos apenas como alguém que está ali, prestes a estender a mão, a socorrer, a esperar, a conformar, a ajudar como se nenhum outro tipo de sentimento habitasse em nossa alma a não ser o de servidão.
Quando comecei este texto disse que facilmente somos enganados por uma pessoa quando a amamos incondicionalmente mas, no término vou me contradizer. Somos enganados por nós mesmo pois nos deixamos de lado por que queremos, por que realmente acreditamos naquela pessoa e que a realização daquela pessoa será um dia retribuída e recompensada.
Somos enganados por nós mesmos quando colocamos nossas vidas em segundo plano.
A vida dos outros não é um bumerangue que se lança e retorna. A vida dos outros é uma flexa que quando lançada, vai em rumo ao alvo.
Estamos sempre amando, sendo enganados e perdoando acreditando que um dia nosso projeto dará frutos.
E ele dá frutos. O problema é quem os colhe!!!
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