quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O solitário aventureiro

Pessoas não são iguais em tudo. Mesmo gêmeos univitelinos se diferenciam de acordo com a criação e a interferência das pessoas ao longo da vida.
Variam tanto fisicamente quanto comportamentalmente. Os padrões de limites variam de acordo com a idade e a experiência de cada pessoa.
Algumas particularidades, algumas individualidades, gostos, gestos, tiques, manias, desejos, limites dentre tantos outros aspectos são únicos. Podem ser parecidos porém são únicos de cada pessoa.
Lembro-me bem como no início tudo era absolutamente lindo e igualitário. Lembro-me bem que eu adorava presentear, estar perto, dar atenção, servir, ensinar, ajudar, proteger, bajular, defender.
Lembro-me bem que a pessoa adorava receber presente, contar com minha presença, aproveitar minha atenção, meus préstimos, meus ensinamentos, minhas ajudas, proteções, bajulações e defesas.
O brilho nos olhos, o sorriso nos lábios sempre comprovaram isso.
Mas não dá para prever, não dá para medir a satisfação das pessoas. Não dá para saber até onde vai a linha limite do que é moralmente aceito e o que não é. Não dá para saber até onde uma pessoa, mesmo querendo descobrir o sabor de outra comida, irá continuar comendo no mesmo lugar.
Eu sei dos meus limites. Eu sei que desejei jogar outro jogo, enfrentar outro adversário, experimentar outros corpos e outras bocas, experimentar outros relacionamentos, começar de novo, voltar atrás. Eu sei que muitas vezes eu estive descontente, amargurado e até inseguro em relação ao que eu sentia. Mas jamais cheguei perto da minha linha limite. Jamais pensei em ultrapassá-la. Sempre resolví meus conflitos internos sozinho, comigo mesmo, com minha paciência e minha sabedoria. Sempre soube que indo para o outro lado eu estaria perdendo mais que ganhando, demorasse o tempo que fosse, uma hora eu ira acabar perdendo. E o que eu perderia, seria irrecuperável. Sempre tive isso dentro de mim como uma verdade única e absoluta.
Por todo o tempo eu fui um só e de um só. Não me dividí nem em pensamento. Não quis nada além do que eu tinha, mesmo que eu não tivesse muito ou mesmo que eu não tivesse o que eu merecia, era o que eu tinha.
fui ensinado a ser assim, minhas influências me levaram a ser assim. O que é meu, é meu. E o que é meu, eu cuido. Não passou sequer pela minha consideração cuidar de algo que não fosse meu.
Mas as pessoas não são assim. Não todas.
Pessoas passam a linha limite com facilidade. Sem medir as consequências, sem saber dos sofrimentos alheios. cientistas, escavadores, matemáticos, geólogos, alpinistas, navegadores, astrônimos,  historiadores, aventureiros, pessoas com perfil dinâmico, livre. Pessoas que para obter destaque e reconhecimento sempre buscaram o mais. Sempre foram além dos limites. Alguns se machucaram no caminho, outros se perderam, tantos outros morreram tentando o seu lugar ao sol, o seu merecido reconhecimento. Muitas vezes se chega ao topo de uma grande montanha pelo prazer se chegar lá, mesmo que seja só um topo, minúsculo e que de tão minúsculo, sua ocupação seja permitida a uma só pessoa. Mesmo que o prazer não possa ser compartilhado e mesmo tendo ter que deixar tudo pelo caminho, o aventureiro está lá naquele momento.
Muitas vezes se atravessa um deserto imenso pelo simples prazer da travessia mas o aventureiro quer estar lá neste momento.
O solitário aventureiro.

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