domingo, 16 de setembro de 2012

Gente Humilde

Estivem ontem em uma residência simples, humilde, de uma senhora muito sofrida e trabalhadora. Uma senhora que já completou o seu ciclo de responsabilidades nesta vida, assim como tantas outras, e que agora vive em função dos filhos adultos e dos seus netos.
Uma senhora de poucas posses, poucas apresentações mas de muitas e boas palavras, uma senhora que não as economiza e que acima de tudo, realiza-se quando as transmite.
Esta senhora fez para minha família uma oração muito bonita, carregada de muita fé e otimismo. 
Eu e minhas filhas andamos muito o dia inteiro de ontem mas jamais imaginaríamos estar alí naquele fim de tarde, início de noite. Era o último lugar que imaginávamos ir.
Então, não estavamos alí por acaso. Havia um propósito e havia muita bondade e espírito de família presente naquele momento. Parece que tudo convergiu para aquele lugar.
E como diria a música de Chico Buarque, Gente Humilde "E eu que não creio peço a Deus por minha gente, que gente humilde, que vontade de chorar"
Então, cabe neste caso um pensamento profundo pois muitas vezes direcionamos nossas orações para o caminho errado. Muitas vezes pedimos para nós, coisas que queremos e precisamos. Muitas vezes pedimos a Deus que Ele providencie benfeitorias na vida das pessoas mais necessitadas quando o caminho deveria ser exatamente o oposto.
Existe sim a felicidade e o contentamento em lares onde as pessoas não possuem luxo, conforto e comodidade. Existe sim o desentendimento, a raiva, a amargura e o rancor em lares onde luxo, conforto e comodidade estão sobrando.
Não é uma questão de posses, não é uma questão de dinheiro. Não é e nunca foi.
Tentar explicar cientificamente a infelicidade e o descontentamento nos levará a vários caminhos. 

Biologicamente poderíamos medir os níveis de serotonina e a condição do cérebro e do sistema nervoso em produzí-la em condições eficazes. Poderia medir os níveis hormonais, a condição da hipófise, da tireóide.

Psicologicamente seriam necessárias várias e várias sessões para identificar a origem da falta de contentamento e felicidade para quem tem e teve tudo. Seria buscar o cerne do problema e a partir daí começar a tratá-lo.

Teologicamente o problema poderia ser atribuído a ausência do temor a Deus, a inversão da onipotência onde o homem seria o mais importante em detrimento à Palavra. Algumas vezes também o excesso de Deus onde o conhecimento único da Palavra impediria o desenvolvimento pessoa e familiar.

Porém a gente humilde tão bem cantada por Chico Buarque consegue ser feliz. A gente humilde consegue sorrir e encontrar bênçãos e qualidades em tudo o que se tem e até no que não se tem. A gente humilde consegue tempo, consegue se dar, compartilhar, dividir o pouco e o tudo. A gente humilde consegue comungar, consegue permanecer em comunhão. A gente humilde consegue encontrar a paz. 
E sabem porque elas conseguem?
Acredito que elas conseguem encontrar a paz por que elas olham para a paz a dois metros de distância e não além de 20 anos. Os objetivos são traçados em centímetros e não em cifras. E os objetivos são aproveitados quando conseguidos. São sorvidos pela alma. São comemorados. E só depois pegam outro lápis, uma régua e traçam o próximo objetivo em centímetros e não em cifras.
E aquela laje batida no dia de domingo com churrasco para a vizinhança que ajudou, aquele carro com o para-lama amarrado com fio de cobre que transporta as compras do supermercado, aquele ônibus cheio e quente que leva  e trás a criançada para a praia no domingo, aquela geladeira duas portas comprada em 18 vezes na Casas Bahia e paga com muito sacrifício, às vezes apenas para gelar a água, aquele refrigerante genérico de Coca Cola e a cervejinha sagrada do trabalhador.
E vão todos para suas igrejas, com suas melhores roupas, roupas de domingo, roupas de igreja mesmo.

E então eu, aqui, escrevendo este texto volto a agradecer àquela Senhora que abriu as suas portas com tanta humildade e sinceridade, que compartilhou seu pudim de leite conosco, que proferiu palavras com o coração.

E novamente lembro Chico Buarque e o completo (se é que isto seja possível) 

"São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"

É gente humilde sim, é gente feliz!

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