A imagem perfeita refletida em um espelho carrega muito além dos traços físicos alí mostrados.
Para quem vê, é apenas uma ferramenta de checagem, uma forma de não precisar de outra pessoa para avaliar a condição física, o peso, a altura, se o cabelo está ou não alinhado, se a roupa vestiu bem, se a maquiagem está de acordo com a ocasião.
No espelho nós nos despimos de qualquer opinião, o momento da verdade, onde o pensamento fala em silêncio sobre nós mesmos. Sem segredos, sem desvios, sem as tradicionais considerações sobre idade, cor da pele, erros e acertos.
Fosse o espelho um agregador de sentimentos, teríamos em cada um deles todo o peso das vidas das pessoas.
Pessoas riem e choram na frente de espelhos, comemoram e se entristecem, fazem caras e bocas, avaliam-se, confidenciam consigo mesmas.
Fosse o espelho carregado de alma, seria uma alma presa às piores considerações a respeito de seu reflexo real. Não há mentiras quando se está na frente de um espelho.
Podemos mentir para todos a respeito de qualquer assunto porém na frente do espelho somos nossos juízes. somos os avaliadores de nossas condutas, somos nossos melhores conselheiros, apesar de não sermos obrigados a seguir nem os nossos próprios conselhos.
Apenas nós, na frente de um espelho, sabemos se estamos certos ou errados. Apontamos o dedo diretamente para nós mesmos e mesmo que nada seja mudado, mesmo que nada seja feito, neste exato momento sabemos de nossos erros e acertos.
Não é a noite, antes de dormir durante as orações a Deus, não é no trabalho, não é no banheiro durante o banho, não é em nenhum momento que temos tantas oportunidades de olharmos para nosso reflexo, identificando em nossa própria imagem o que nos faz bem e o que nos faz sofrer.
É na frente do espelho que choramos por dentro. Na frente do espelho arrependemos e voltamos os olhos para frente para ver o que está atrás de nós. É exatamente na frente do espelho que percebemos a solidão atrás de nós e neste momento vemos que não trouxemos na nossa vida nada além de nós mesmos.

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